Você está camuflando suas análises sem perceber?
Texto por: Ettore Cerchi
Em clima de copa, imagine a seguinte situação comigo:
Um atleta precisa fazer gols de pênalti, mas nos treinos ele praticou apenas escanteios. Além disso, seu técnico diz que é necessário mirar na trave, e não no gol. Para finalizar, esse atleta na verdade nem é atacante, e talvez nunca irá bater um pênalti. O que você mudaria nessa situação?
Explicação: Essa metáfora serve para ilustrar como muitas vezes em análises de dados as pessoas se iludem com técnicas e ferramentas mais complexas, mas esquecem de se atentar aos pontos mais simples, que podem enviesar sua percepção e acabar com sua análise.
Você precisa bater pênaltis?
Fonte: Pexel
No universo da gestão de pessoas, sempre nos deparamos com uma infinidade de processos, subsistemas e possibilidades de mudanças. Vamos realizar mais um exercício imaginativo para abordarmos essa questão:
Estão acontecendo muitos pedidos de demissão em uma área financeira fictícia de sua empresa. Com isso, você prontamente orienta o time de RH para que sejam oferecidos maiores salários às pessoas daquela área.
Passados alguns meses, os aumentos de salários foram todos cumpridos, mas aparentemente as demissões continuam. O que aconteceu?
Ao investigar, você se depara com a situação de que a área não precisava de maiores salários, já que a maioria já estava recebendo um bom valor, sendo ele até acima da faixa salarial do mercado.
Ao longo do tempo, você descobre que na verdade o que faltava era a atenção a outras necessidades, como treinamentos voltados para comunicação.
Explicação: Essa é uma situação muito comum nas organizações, e também ocorre no dia a dia de quem trabalha com análise de dados. Será que estamos treinando para a situação correta, ou apenas medindo esforços para cumprir uma meta pré-estabelecida sem real investigação?
Você está mirando na trave e, às vezes, acerta o gol?
Fonte: Pexel
Seguindo com o exemplo citado acima:
Você percebeu a necessidade dos treinamentos de comunicação e já os contratou.
Todos os meses, avalia que os treinamentos foram cumpridos, a área até teve uma melhora no desempenho, mas continuam havendo demissões acima da média quando comparado às outras áreas.
Ao fazer uma nova investigação, percebe que de 1000 pessoas da área, somente 400 estão presentes nos treinamentos.
Aqui, entramos no conceito de eficiência. A eficiência está relacionada com a qualidade, otimização de recursos e ao modo de fazer.
Explicação: Os treinamentos estão alinhados com os objetivos corretos, mas o processo não é eficiente pois você acabou não medindo uma métrica-chave, que é a presença dessas pessoas.
Quantas vezes você está acertando o gol?
Por fim, chegou a hora de medir se finalmente estamos tendo sucesso na aplicação dos treinamentos após todos esses refinamentos e tentativas de sensibilização para que as pessoas compareçam.
Ao acompanhar os números, você percebe que de 1000 pessoas na área financeira, 900 estão presentes nos treinamentos.
O treinamento foi um sucesso: você teve 100% de eficácia ao elaborar o treinamento adequado e 90% de eficiência ao conseguir 900 presentes, correto?
Bom, para muitas pessoas a conversa acaba aqui…
Mas, aqui na MINEHR tentamos sempre nos preocupar com todas as possibilidades que podem envolver um fenômeno. Investigando a situação mais profundamente, é bem comum perceber outras camadas de desafios, por exemplo:
A população dessa área financeira fictícia é constituída de 800 homens e 200 mulheres.
Das 1000 pessoas que estavam faltando, 100 eram mulheres. Ou seja, 50% da população feminina está com outra barreira, a qual não sabemos ainda.
Por isso, participar do treinamento de comunicação ajuda, mas não irá sanar a necessidade da área. Outras atitudes devem ser tomadas.
Em resumo, antes de começar uma análise, verifique se ela está orientada ao objetivo correto e que vá iluminar um problema já mapeado. Investigue outras variáveis que possam interferir na sua variável-alvo, criando maneiras de avaliá-las também. Fique alerta para a facilidade com que dados sobre pessoas podem ser camuflados, por exemplo, com uma simples mudança de denominador.
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